sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O inimigo externo

Na semana passada, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi à França e à Rússia negociar a compra de caças e submarino militares para proteger o país de eventual agressão estrangeira. Tolice. O ataque aos interesses do Brasil não será pelos métodos convencionais, mas por operações como as deflagradas para combater a fabricação de álcool combustível. Hoje vários jornais pelo mundo, incluindo o The New York Times e o The Wall Street Journal, trouxeram reportagem a partir de duas pesquisas publicadas na respeitada revista Science, ligada à Sociedade Americana para o Progresso da Ciência. As pesquisas trazem três conclusões importantes:


A- as estimativas sobre os benefícios da substituição dos combustíveis a base de petróleo pelos biocombustíveis devem levar em conta o uso da terra, especialmente se houver desmatamento;
B- o etanol produzido a partir do milho (como nos EUA) é ambientalmente insustentável;
C- se a floresta Amazônica se transformar num imenso ‘plantation’ de soja, seriam necessários 320 anos para que a troca de gasolina por biocombustível compensasse em termos ambientais.

A partir desses três fatos surge uma reunião de interesses dos grandes petroleiros, produtores de milho americanos e alguma má-fé para atacar o Brasil. Um dos cientistas Joseph Fargione, da respeitada ONG Conservation, afirma que “fazendeiros brasileiros estão destruindo a Amazônia para plantar soja”, o que é desplante para qualquer um que conhece as diferenças entre o bioma do cerrado e da floresta. A Amazônia está sendo ameaçada sim, como comprovam os dados de satélite, mas pelo avanço de grandes pecuaristas no Sul do Pará e de sem-terras no Norte do Mato Grosso e Rondônia. A soja tem envolvimento indireto nessa conta. E os biocombustíveis no Brasil não são à base de soja, ou milho ou mesmo dendê, mas de cana-de-açúcar, cujas plantações estão baseadas no interior de São Paulo, a mais de 4 quilômetros da Amazônia. Ambientalmente falando, a cana-de-açúcar é um avanço.


A opção da cana é perfeita? Coisa nenhuma. Muitos usineiros continuam operando como antes da era Vargas. Mas afirmar que a cana ameaça a Amazônia é dessas bobagens que precisam ser combatidas. Foi usando meias verdades que os fazendeiros da Irlanda e do Reino Unido conseguiram, na semana passada, bloquear as exportações de carne do Brasil para toda Europa. Portanto, para proteger os interesses do Brasil, é preciso menos de um ministro da defesa e mais de um ministro de Comunicação.

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