Claudia 4 All

No calor da crise

A melhor definição do caos que tomou conta das bolsas esta na frase de um diretor da Baker, Young Wesley Legrand: “O mercado perdeu há tempos qualquer lembrança do que é bom senso ou análise dos fundamentos da economia. Medo, pânico e a capitulação de hoje (ontem) conspiraram a bola de neve que forçou a venda dos papéis”. E o Brasil? Como fica no meio dessa crise? Bom, é preciso antes de tudo, fazer uma comparação. Na crise dos atentados de 2001, o governo de FHC estava com um déficit nas contas externas superior a 4% do PIB, reservas cambiais de US$ 30 bilhões e um curriculum irregular de disciplina fiscal. Hoje, o governo Lula não tem mais o déficit externo, as reservas cambiais chegam a US$ 180 bilhões (sendo que a dívida externa não chega nem a US$ 100 bilhões), o crédito ao consumo é um dos maiores motores do crescimento eo controle fiscal virou dogma. Em onze de cada dez entrevistas, FHC justifica que o governo Lula tem indicadores melhores por nunca ter passado por uma crise. Infelizmente o desejo se realizou e não há melhor momento para testarmos isso.

O Brasil nunca esteve tão bem numa crise externa, porém as empresas listadas na Bovespa perderam R$ 400 bilhões de valor de mercado em 20 dias. Como isso se explica? A questão é que a natureza das crises mudou. O que é orgulho do Brasil hoje (superávit comercial, volume de reservas, etc.) são os remédios para uma crise cambial. "Não estamos numa crise cambial, mas sim uma crise de crédito", como afirma Mirian Leitão, do jornal O Globo. Esses são os remédios para a crise que tivemos há nove anos atrás, não para essa que está se espalhando pelo mundo!

Bom, não adianta se apavorar agora. Como afirma Celso Ming, em O Estado: "Os mercados desabaram ontem porque as pessoas reagiram mais com o fígado do que com a cabeça. Deixaram que o medo assumisse o comando das decisões. Desta vez, a insegurança está sendo redobrada porque quem devia passar firmeza está vacilando. E a vacilação está no andar de cima, em quem em princípio teria de enxergar melhor as coisas”.

postado por Claudia Pessanha @ 4:57 PM